Momentos dificeis e virou moradora de rua nos Estados Unidos

Essa é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será  mera coincidência


Naquela manhã de outono em Long Branch no estado de New Jersey atravessei a rua com o meu café na mão. Eu estava vivendo ali há três quarteirões da avenida Broadway, bem na parte que tem alguns comércios brasileiros e mexicanos. Eu queria conversar com aquela mulher que eu vi pedindo dinheiro em frente a loja do indiano na Avenida  Broadway. O que me marcou foi que era uma senhora, e eu queria saber porque ela estava pedindo esmolas. Eu nunca tinha visto um brasileiro pedindo esmola nos Estados Unidos. Ela tinha esse jeito brasileiro das nossas origens indígenas, pequena, pele marrom, cabelo liso e preto. 

Eu pensei:"- O que levaria essa senhora a pedir esmola, nos Estados Unidos, o paìs mais rico do mundo?"

Alguns dias antes de encontra-la eu havia visto uma postagem  no facebook. Essa postagem na pagina da comunidade brasileira de Long Branch dizia que tinha uma senhora brasileira pedindo esmola na Broadway e que não era para ninguém dar nada e que essa senhora era pedinte e dormia nas ruas. Fiquei intrigada com esta postagem, achei injusto mas não sabia o que estava acontecendo. Nesta mesma semana encontrei essa senhora pedindo no mesmo lugar. Eu já tinha visto ela em uma tarde escura durante a semana, mas nao consegui me aproximar.

O outono estava próximo e o sol se pondo mais cedo.  Neste sábado de manhã e como todos os sábados de manhã eu estava saindo para  comprar meu café ali na lanchonete brasileira. Faz poucos meses que eu tinha chegado na cidade e tudo para mim ainda era novidade.  Eu andava pelas ruas apreciando cada folha cor vermelha, laranja ou amarela, o outono estava próximo e com aquela claridade cor de laranja por todos os lados.

Cheguei até ela, pedi licença e  ofereci um café,  perguntei para ela porque ela estava pedindo, e eu tinha visto uma postagem no facebook falando sobre ela. Me perguntou se eu estava disposta a ouvir a história de sua vida, eu disse que sim e ela me contou:

"- Eu vim para os Estados Unidos muito jovem quando eu ainda tinha meus vinte e poucos anos. Veio eu e meu irmão tentar a vida aqui na America. Quando chegamos há mais de vinte anos atrás, fomos morar em uma casa com oito brasileiros, todos recém chegados. Dormíamos em um colchão no chão, não tinha quarto e nem cama para todos.  Passado uns dias eu já arrumei um trabalho de ajudante de faxina,  e meu irmão conseguiu na construcao," disse-me ela.  Acordava cedo todos os dias e limpava de quatro a cinco casas por dia. A patroa brasileira, dona da agenda de casas, levava a gente em um carro bonito. Era eu e mais uma ajudante. 

"- Com este trabalho de ajudante eu consegui juntar algum dinheiro do que sobrava depois que pagava o aluguel e todas as outras contas. Eu e meu irmão ficamos ali naquela casa por alguns meses e depois conseguimos alugar um pequeno apartamento para nós. Com o tempo fui conversando com as pessoas que encontrava e consegui minhas próprias casas de faxina e não precisei mais ir de ajudante. Foi um alívio, eu agora não precisava mais ir como ajudante. Trabalhei com as pessoas mais ricas aqui do entorno da cidade de Long Branch.  Eu ganhava bastante dinheiro, eram minhas clientes e eu conseguia pagar todas  as minhas contas. Eu sempre tive carro bonito, roupas bonitas e meu apartamento que não era luxuoso e  eu vivia muito bem." Eu ouvia tudo com muita atenção sem interrompê-la,  na minha mente eu via essa senhora com aquele monte de sacolas, e pensava na dificuldade dela todos os dias; e ela continuou:

"- Ê minha filha nesta vida a gente só vale quando a gente pode trabalhar, quem não pode mais é descartada.  Está vendo essa minha mão aqui? "- Sim!" afirmei. "- Então esta minha mão torta deste jeito ficou assim de tanto trabalhar na faxina. Quando eu era jovem eu tinha energia, hoje já não tenho mais. Eu comecei com essa doença nas mãos que até hoje não sei o que é. Meu irmão foi embora porque ele ficou doente. Eu nao quis ir embora junto com ele pois se eu fosse iria ter que morar junto com minha irmã. Eu tinha uma casinha lá em Minas Gerais, mas dei a minha casinha para minha irmã que não tinha onde morar."

"- Cada dia mais minha mão foi ficando turva e as minhas clientes de faxina foram me dispensando porque eu não dava mais conta do trabalho" Fiquei sem ganhar nada, vendi meu carro. Meu dinheiro já não dava mais para pagar o apartamento e eu entreguei meu apartamento e fui morar nas ruas. 

"- Puxa vida," eu exclamava. "-E agora você mora onde?"

"- Eu não tenho casa, moro nas ruas. Há um tempo atrás algumas pessoas bondosas me acolhiam em suas casas, eu dormia uma noite em uma casa e outra noite em outra.  Hoje em dia não tenho mais ninguém. As vezes durmo em uma estação de trem, as vezes durmo em outra. Tem um homem bondoso na próxima estação que me deixa dormir lá. Eu chego cedo lá para dormir. durante o dia eu peço dinheiro para poder comer. Muitas das vezes estou em Nova Iorque porque lá é melhor. 

Senti muita compaixão por essa história de vida. Eu disse à mulher que ela poderia ir na igreja Saint James Church, ali perto mesmo que lá eles dão comida, e tem um programa social. Ela me disse que conhecia o programa , que já havia tentado mas que não conseguiu nada. 

Perguntei se ela tinha vontade de voltar ao Brasil e ela me disse que não, porque tinha vergonha de chegar lá como uma mendiga e não tinha mais onde morar. Me contou de novo que doou sua casa a irmã e que não tem mais lugar para morar. 

Eu dei  um dinheiro para ela e segui meu caminho para casa pensando na história de vida desta mulher. Viver fora do país da gente é difícil, encontramos muitas dificuldades. Muitas vezes quem está passando um momento difícil não fala nada, não reclama e parece que está tudo bem. Só quem vive fora, quem vê o que as pessoas passam fora do país entende o verdadeiro significado da palavra imigrante. Fico triste em saber que tem pessoas que não tem um lugar para dormir. Qualquer um pode ir parar na rua, ninguém está totalmente blindado. Mesmo que a pessoa tenha segurança financeira pode acontecer. Às vezes um problema mental, uma perda de memória também levam pessoas em situação de rua. Vamos cuidar mais dos nossos.

Obs: Agora já estamos no ano de 2021 e eu me deparei com um artigo de um jornal local da comunidade aqui que os brasileiros fizeram uma vaquinha e pagaram a passagem para essa senhora voltar ao Brasil. 

@todososdireitosreservado


Fale comigo Facebook- Fan Page



Comentários

Mais visitadas

KOINOBORI- Dia dos meninos

A viagem de Laura - brasileiros no exterior- Blog