Mae e filha vivem Sonho Americano


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          Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência


Vieram desta pequena cidade do interior do Brasil com visto de turista, gostaram do país e resolveram ficar nos Estados Unidos e viver o sonho americano.

Me contou que cresceu em uma pequena cidade do interior, seus pais tiveram condições de dar uma boa educação para ela, a mais nova e seus sete irmãos. Foi educada com todo carinho pelos pais. Sua família sempre foi unida e eram felizes. Sempre se deu bem com os irmãos e vivia uma vida pacata no interior de Minas Gerais. Seus pais sempre trabalharam duro para manter todos os filhos bem vestidos, alimentados e estudando. Aos finais de semana sua casa estava sempre cheia de gente e a mesa sempre farta para todos que chegassem. Seus pais gostavam de receber visitas e também pessoas que eles ajudavam de alguma forma, seja emprestando dinheiro, aconselhando ou hospedando em sua casa.


Ela casou-se bem jovem e quando conheceu seu primeiro namorado que morava na mesma cidade foi morar com ele, nunca se casou. Um dia ele resolveu que iria embora para os Estados Unidos e foi embora para Nova Iorque. Ela ficou triste, sozinha, e só pensava nele. Ficou esperando e passou um ano, ele não voltou, então ela se organizou e foi atrás dele. Chegando lá moraram juntos e então ela ficou um ano na cidade. Trabalhava em alguns restaurantes e o namorado era cozinheiro.Ficaram um ano nessa vida de trabalho duro em Nova Iorque mas ele quis retornar ao Brasil e ela voltou com ele. Aconteceu que mesmo voltando ela ficou com aquela vontade de um dia voltar para essa cidade, ela gostou muito e nunca esqueceu aqueles dias felizes que viveu com seu namorado em Nova Iorque.

Voltaram ao Brasil e continuaram morando na mesma cidade do interior. Juntos tiveram dois filhos, Stefani e Douglas, ela vivia com seu esposo, mas sempre imaginava-se um dia voltando a Nova Iorque. Eles moravam nesta pequena cidade do interior, que ficava cada dia parecendo menor para ela. Dava suas aulas, gostava do trabalho mas não estava feliz.Ela estudou muito e foi para a faculdade e fez a graduação em pedagogia. Ao terminar a graduação estudou para concurso público e passou a trabalhar em uma escola do mesmo bairro onde morava e dava aulas nessa pequena escola. Conhecia todos os alunos, sabia onde eles moravam e também conhecia e sabia quem eram os pais de seus alunos. Todos seus alunos gostavam dela como professora, pois era muito dedicada na sua tarefa.Um dia ela percebeu o quanto estava cansada daquela situação, professora, trabalha muito, ganha pouco, não era valorizada e, dentro dela sempre aquela vontade forte de mudar de vida.


O marido era bom mas se envolveu começou a usar drogas pesadas e a vida dela passou de calmaria a pesadelo. O pai já não se importava com nada. Levava as crianças pra sair com ele mesmo sabendo dos riscos que corria ao portar drogas. O marido já não estava mais fazendo bem seu papel de marido e nem o de pai. Fazia tempo que ela era o esteio da família. Um dia ele acabou preso por porte de drogas em seu carro.Ficou cansada daquela cidade pequena, perdeu o brilho do olhar e  onde as pessoas sempre se sentam nas calçadas de suas casas e ficam falando da vida dos outros.


Tudo que acontece na cidade todo mundo sabe. Ela queria  sair desta vida e não aguentava mais andar nos mesmos lugares e todos que ela encontrava a conheciam e sabiam de tudo de sua vida que não estava sendo nada fácilEla cuidou muito bem de seu casal de filhos. Foi dando aula na escola, trabalhando todos os dias que ela os criou sozinha.Estefani, a sua filha também me contou que sonhava desde criança o dia em que sairia daquela cidade, queria viver nos Estados Unidos. Teve essa vontade desde pequena, pois vários de seus amigos de infância já tinham ido embora e a cidade foi ficando cada vez mais vazia. Permaneciam nela apenas os mais velhos ou um ou outro jovem que não queria imigrar. Como muitos de seus amigos já estavam vivendo como imigrantes nos Estados Unidos, ela também  queria tentar uma vida diferente, aprender inglês, trabalhar, juntar dólares e ter uma vida mais confortável.

A filha da professora, a Estefani, me disse que quando fez dezoito anos quis viajar aos Estados Unidos pois não dependia mais de seu pai para autorizar e foi conversar com a mãe para acompanhá-la e ficou surpresa quando a mãe concordou em ir e que pensava nisto ha muito tempo.Começaram os preparativos e iriam mãe e filha juntas, a princípio iriam para a Disneylândia, e de lá deixariam que o coração e o sonho as guiasse, assim pensaram e assim fizeram. Cada uma com sua imaginação, e nunca perdendo o fio da meada de seus sonhos que era ter uma vida melhor, com conforto, dinheiro e em outro lugar onde as pessoas não ficariam mais falando da vida delas.O filho que era o irmão mais velho de Stefani,  sempre gostou de estudar e com 18 anos já estava cursando medicina na universidade. Ele saiu da pequena cidade e foi para a capital. Desde pequeno sempre sonhou em estudar e se formar. Foi nos bancos do ensino médio que um professor logo percebeu que ele era inteligente e com mentalidade avançada, diferente dos outros meninos da classe e Douglas ganhou bolsa de estudos.

Tudo combinado, elas viajaram e Douglas poderia ir depois quando terminasse a faculdade Quando sua mãe e irmã partiram ele não queria trancar a matrícula da faculdade para viajar com elas e  preferiu ficar. Ficou triste e abatido; chorou calado, mas a mãe me contou que mesmo sofrendo ele  sabia que naquele momento era importante para sua mãe e irmã sair desta pequena cidade em busca de seus sonhos de uma vida melhor.

Imaginaram juntas como seria a vida longe da pequena cidade, e fizeram um plano de viagem, seus passaportes, pediram o visto no Consulado dos Estados Unidos em Goiânia no Brasil. Quando foram à entrevista, ela fez um rabo de cavalo no cabelo e no mesmo dia conseguiram o visto de turista para visitar a Disneylândia.&nbspSe prepararam durante alguns meses, compraram a passagem, colocaram roupas novas, juntaram objetos pessoais, roupas,  alguns objetos sentimentais, tudo deu três malas de 30 kg cada. Bolsas a tiracolo, sentimento na razão e com muita emoção partiram para  uma nova vida. No dia da viagem, arrumaram os cabelos, fizeram as unhas e seguiram para o aeroporto acompanhadas de parentes e poucos amigos.Foi tudo tão emocionante, muito choro e que ela ainda lembra desse último dia no Brasil e me conta com lágrimas nos olhos os detalhes.  Como sempre a hora da partida é triste. Tudo que elas tinham ficou para trás, casa, parentes, amigos e a cidade pequena com seus moradores e suas calçadas. Seu pai e sua mãe já tinham falecido, e seus irmãos tinham se casado, e cada um tomou o rumo da sua vida. Ela não fez diferente e partiu.

Chegando nos Estados Unidos elas nem foram à Disney, foram direto na casa onde iriam ficar.  Alguns conhecidos que já moravam nos Estados Unidos se propuseram a ajudá-las, e foram bem recebidos na casa de um deles. Nessa casa onde foram recebidas, moravam  três mulheres brasileiras da mesma cidade e que também entraram nessa aventura de viver como imigrantes.Começaram uma nova vida nos Estados Unidos,  mãe e filha.

Já fazem três anos que chegaram e permanecem juntas até hoje. As duas são lindas, dessas brasileiras de cabelo preto, pele branca, olhar radiante e sempre com um leve sorriso no rosto.Na primeira semana  que chegaram já arrumaram trabalho como ajudante de faxina e começaram a ganhar dinheiro todo dia. Todos os dias acordava às seis da manhã, tomavam seu cafezinho preto, arrumavam suas marmitas e iam mãe e filha para trabalhar. Limpavam de 3 a seis casas por dia. Limpavam  uma casa e quando terminava entravam no carro e iam em outra casa para limpar e em mais outra e se tivesse outra tinha que ir também. Elas nunca tinham trabalhado de faxina, não sabia pegar em um rodo direito. Tiveram  que aprender sofrendo, em um país estranho, mas o ganho compensa, chegava no final da semana recebiam um bom dinheiro.

Foram  tão humilhadas várias  vezes  como nunca tinham sido na vida. Uma vez a mulher que levou ela pra trabalhar de repente começou gritar com ela porque não tinha limpado direito o chão da cozinha e começou a gritar com ela sem parar, ela simplesmente ficou em silêncio. Outra, tratava ela mal, e sempre quando iam ensinar algo para ela faziam com muita estupidez. 

Ela me conta que foi uma época muito difícil para as duas. Às vezes choravam mas aguentaram firmes, não perdeu tempo e nas horas vagas sempre estudava inglês. Aos poucos se organizaram, juntaram um pouco de dinheiro e alugaram seu próprio apartamento. Pensavam que como nao tinham um visto para permananecer nos Estados Unidos o jeito era permanecer ilegal se quisessem realizar aquele sonho de guardar dinheiro, ter uma vida confortavel e viverem com mais seguranca. Assim o fizeram e continuaram ali naquela mesma cidade onde chegaram e permanecem até hoje, uma cidade à beira mar no sul de Nova Jersey.

Stefani gosta de sertanejo e funk, hoje ela tem 24 anos e vive a vida intensamente. Decidiu que quer ser rica, que se não tiver sorte no amor pelo menos que tenha nos negócios. Ela me contou como é sensível e como sendo tão jovem já viveu tanto. Já teve muitas emoções, namorou, amou, sofreu com a separação de seus pais. Teve que se adaptar a uma nova vida e se entrega demasiado às amizades e se apaixona rápido.  Me conta que apesar de tudo está feliz por estar em um país que lhe proporciona segurança e tem trabalho vai para qualquer lugar, aprendeu a dirigir tirou sua carta de motorista aos 21 anos e pode fazer o que quiser com liberdade.  

Não retornaram ao Brasil  e nisto já se passaram  quatro anos que Stefani e sua mãe não viam o irmão de Stefani. Conseguiram juntar algum dinheiro para ajudar o irmão de Stefani, o Douglas vir encontrá-las pois a saudade e a vontade de se reunirem era grande. Passado um tempo deu tudo certo e as duas foram buscar ele no aeroporto John  Kennedy em Nova Iorque. A emoção do encontro depois de tanto tempo sem se encontrarem veio e o choro foi inevitável.O encontro deles foi lindo. Eu pude presenciar, me emocionei diversas vezes com a história dessa família, foram  muitas conversas entre eles.

Muitas palavras não ditas neste tempo de separação e que precisava agora depois de todo esse tempo perdido de convivência ser recuperado nas poucas semanas que ele esteve junto com elas. Fizeram todos os passeios que o Douglas queria, ele aprendeu a falar inglês sozinho no Brasil, nunca frequentou nenhuma escola. Aproveitaram o máximo do tempo com ele. No dia marcado para Douglas ir embora foi triste e os três choraram, se abraçaram e prometeram nunca esquecer do amor que os une para sempre. Até hoje, ao escrever esta história eu me emociono e as lágrimas vêm aos olhos, porque eu sei como esse sentimento vem forte e afeta quem passa por uma  separação familiar onde você não pode ver e nem tocar quem você ama por anos e anos a fio. O encontro é emocionante e a felicidade é como um raio, ela vem e vai embora rápido.  O sonho é lindo, e a realidade é dura, às vezes triste mas sempre com positividade.

A vida segue, e a vida  continua; como imigrante em um país distante você tem que falar outra língua, aprender novas culturas e trabalhar muito se quiser sobreviver. Independente de todos os problemas que os imigrantes têm que enfrentar no exterior continuam firmes. Vem uma força de não sei onde que passa por cima das lágrimas, da emoção do encontro com o familiar que agora está longe de novo e que não  pode tocar.Fale comigo

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