Perdeu o amor dos filhos ao procurar uma vida melhor

                              

                   

Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência


A mulher me procurou porque ficou sabendo por uma outra pessoa que eu era costureira. Ela disse que queria fazer algumas capas de almofadas. Me mostrou o modelo, as cores que queria e ficou bastante tempo no meu quarto. Eu alugava este quarto na casa de uma família e estava como turista de longa data naquela pequena cidade à beira mar em New Jersey. 
O tempo passou rápido e  eu percebi que ela tinha lágrimas nos olhos enquanto conversavamos e disse que me convidaria para almoçar com ela em um restaurante chinês enorme ali na cidade de Eatontown ao lado da cidade de Long Branch, em New Jersey e que tinha vários pratos diferentes de comida chinesa. 
Como prometido, um dia ela me ligou, fez o convite e passou na minha casa de carro. Entrei naquele carro grande, bonito e com cheiro de produtos de limpeza, havia rodinhos e panos de chão. 

Era um restaurante enorme, tipo self service, parecia os restaurantes brasileiros com enorme buffet. Então pude experimentar vários pratos deliciosos da culinária chinesa. Ela não sabia, mas falou com a pessoa certa, eu respeito muito quem me oferece comida mais do que qualquer outra coisa.  A comida é sagrada e quando a pessoa oferece é porque quer dar o seu melhor. No restaurante sentamos em uma mesa grande só para nós e ela disse que eu poderia me servir a vontade e pedir a bebida que eu quisesse que ela iria pagar tudo. 
Com os olhos cheios de lágrimas ela começou a me contar sua história de vida.

Ficamos quatro horas lá dentro, lá fora fazia muito frio e o chão estava todo branco coberto de neve. 
Me contou que quando ainda morava no Brasil era casada e teve três filhos, um menino e duas meninas. Ela era dessa pequena cidade do interior de Goiânia e sonhava em um dia morar nos Estados Unidos para dar uma vida melhor aos filhos. Ficaria alguns anos e depois voltaria com certeza para continuar a vida pacata de interior ao lado de seus filhos e sua família. 
O pai já tinha abandonado a família fazia tempo e não ajudava em nada. Sua família fazia o possível para ajudá-la, mas assim como ela tinham poucos recursos financeiros. O pai, não vinha ver os  os filhos toda semana,  só vinha quando dava na cabeça e bem de vez em quando.

Ela sempre teve essa vontade de ir para algum lugar onde pudesse trabalhar e ser bem paga pelo trabalho duro que sabia exercer: fazer faxina.
Finalmente ela conseguiu se organizar com a ajuda da familia e foi de encontro ao seu sonho. No Brasil ela deixou toda sua família, mãe, irmãs e seus maiores tesouros, seus filhos. Ela me conta que deixou os filhos com a irmã e a mãe. Com a família ela confiava em deixar seus filhos porque sabia que sua família iria cuidar bem deles e falar coisas boas sobre ela. Poderiam explicar para as crianças  sobre o todo o esforço que ela fazia em ficar longe e trabalhar duro por elas. 
As crianças eram ainda pequenas, três, cinco e sete anos. A sua irmã mais velha ficou responsável por eles e o resto da família dava suporte. 

Após a viagem dela o pai começou a vir todos os finais de semana para buscar as crianças. Passados seis meses que ela foi embora, um dia,  o pai levou as crianças em um final de semana e nunca mais devolveu para a irmã. Ela agora tinha que ligar todos os dias para a casa de sua ex-sogra e pedir para falar com os filhos. Foi desse dia em diante que ela começou a sofrer, porque o ex marido e a ex sogra a criticavam muito e diziam que o dinheiro que ela estava dando não dava para os gastos e pediam cada vez mais dinheiro. Ela passou a enviar dinheiro para a conta dos pais das crianças em vez de mandar para a irmã.

Todos os meses ela mandava dinheiro para comprar tudo que as crianças precisavam. Com seu trabalho de faxina nos Estados Unidos conseguia pagar até uma escola particular para os três. Trabalhou primeiro como ajudante de faxina e depois conseguiu seus próprios trabalhos e às vezes levava uma ajudante. 
Ela sustentava as crianças em tudo. Roupas, comida, escola, enviava pelo correio roupas de marca, tênis, casaco, brinquedos, produtos eletrônicos e tudo que eles pediam. Todos lá no Brasil ficavam felizes porque eles nunca tinham possuído tantas coisas. Ela sempre deixava de comprar as coisas para ela, mas para os filhos ela nunca deixava de mandar dinheiro e comprar coisas para eles. 
 
Os filhos cresceram longe da mãe, as meninas gostavam de estudar, mas o menino nem tanto. Ficaram adolescentes, o menino já ia fazer dezoito anos e a mãe ainda não tinha voltado nenhuma vez para o Brasil e havia se passado tantos anos longe dos filhos que ela nem se lembrava mais quanto tempo fazia. As crianças cresceram vendo apenas o dinheiro entrando, falavam com a mãe todos os dias pelo telefone mas não podiam abraçá-la. 
Ela começou a perceber que as conversas com o filho mais velho já não era como antes, as meninas raramente queriam falar com ela e, quando falavam era para pedir mais dinheiro ou pedir para ela mandar algo. O pai do menino contou que o menino tinha começado a usar drogas e não sabia o que fazer mais para ajudar ele. 
Nessa mesma semana ela falou com os filhos e tiveram uma discussão porque ela disse que não ia mandar mais dinheiro para eles e que estava cansada de só mandar dinheiro  e eles não respeitavam todo o esforço que ela fazia. Eram mal agradecidos e sempre queriam mais. 

Ela nunca imaginou que um dia os filhos não quisessem mais falar com ela. Estava triste e chorando. Faz várias semanas que queria falar com os filhos mas eles não atendiam mais os telefonemas dela porque ela tinha parado de mandar dinheiro. 
Eu só pude ouvir e dar meu ombro para ela chorar e disse que o que ela estava passando era a realidade de muitos imigrantes que vão tentar a vida em outro país.Também aconselhei ela a voltar e tentar reconstruir esses laços maternos que com o tempo e a distância se quebram. 
Quando os pais e ou cuidadores que ficam no país natal com as crianças  têm compaixão e ajudam o imigrante a manter um bom relacionamento com os filhos o sofrimento diminui. 
Ajudar mais em vez de criticar, só quem passa por isso sabe o esforço e as dificuldades que os imigrantes encontram no exterior. O frio, a solidão, a saudade e o cansaço fazem parte do cotidiano de todos. Vida de brasileiros no exterior parece facil, mas o dia a dia que se ve o que cada um passa no exterior.

©todososdireitosreservados 

                                                                                                



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