Hachiko, o cachorro inteligente de Shibuya
Historia ficticia
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Ofurô- Oguikubo
Hoje este post vai para todas as pessoas que amam o Japão, sua cultura e querem sempre aprender um pouco mais. Esta cultura do banho no Japão data de séculos e séculos, quando conseguiram canalizar as águas que correm quentes próxima dos vulcões.
Principalmente os brasileiros que visitam o Japão ou os descendentes que moram no Japão precisam saber que os banhos de ofurô, cento e onsen são uma verdadeira fonte de saúde e curam várias doenças
Fui com minha filha neste banho em Tokyo, no Japão. Fazia anos eu vinha sempre ao Japão, e voltava para o Brasil sem ir em um bom banho. Desta vez deu certo e frequentei várias vezes este local e outros interessantes e bom para banho. Quando morei no Japão por doze anos eu conheci cada canto onde tem um banho, seja grande ou pequeno. E a saga continua.
Nagomiya, em Ogikubo -Tokyo- é um SPA bem conhecido e vem pessoas de vários lugares de longe do país para conhecer os tipos de banho e sauna que eles oferecem. O lugar é de alta tecnologia, desde o momento na portaria até o pagamento final.
Na portaria você começa a escolher um plano para o dia desde se tornar sócio, ou apenas o plano do dia com vários tipos de descontos e preços diferentes. O local fica ao lado da estação de Ogikubo em Tokyo. O prédio tem cinco andares e todos os andares são destinados aos clientes.
Na entrada você tira o sapato, coloca-o no armário, tranca e guarda a chave na sua bolsa. Cuidado porque se estiver chovendo não pode apenas entrar com o guarda chuva. Na entrada tem um saco de plástico bem grosso em formato de guarda chuva, coloca seu guarda chuva dentro e leva com você.
Na portaria que fica no térreo, após escolher o plano eles te entregam um cartão, uma chave e duas trocas de roupas. Pode escolher a roupa que quer usar no cardápio digital onde mostra o modelo nos tamanho pequeno e grande. Eu escolhi a roupa que parece mais um kimono com uma bermuda. Esta chave que você vai receber na portaria é para abrir o armário para colocar suas coisas e trancar. Você coloca o cartão na fechadura, ao sair tranca com a chave e deixa o cartão lá. Só vai pegar o cartão quando terminar tudo. A chave tem um código de barras, se você for comer algo lá dentro, pegar uma bebida na máquina, um sorvete, ou comprar algo que precisa, tipo escova de cabelo, escova de dentes etc. vai usar o código de barras que está na chave. Para cada tipo de produto uma máquina diferente. O sistema é complexo, a vida no Japão é hightech. Tudo que você gastar lá dentro será armazenado no seu cartão que você recebeu na entrada para fazer o pagamento final quando sair.
Tem que prestar atenção na explicação porque uma das roupas é para usar apenas nos banhos de rocha e sauna de pedras do terceiro e quinto andar. A outra muda de roupa é para ser usada quando você vai para o segundo andar. Se você for mulher vai para o segundo andar e se for homem vai para o quarto andar, locais onde tem as banheiras.
Na portaria o atendente vai te mostrar um folheto e explicar sobre tudo que tem lá dentro e o que você pode desfrutar no dia. A explicação é falada e escrita em japonês, então se quiser entender tudo e se não souber falar japonês tem que ir com alguém que fale bem japonês. Também neste folheto tem um formulário que você pode preencher caso queira tornar-se sócio. Sendo sócio os descontos são maiores. Eu fui com minha filha e ela traduziu toda a explicação para mim. Se você não entender como funciona pode perder um bom desconto.
Os preços variam; durante a semana é mais barato e no final de semana e feriados é
mais caro. Por um dia se você não usar o quinto andar paga 600 ienes a menos, e o valor total
fica 3.500 (três mil e quinhentos ienes) se você conseguir um bom desconto.
Pode procurar o desconto no site ou insistir com eles onde tem um desconto. Se não
conseguir o desconto vai pagar (quatro mil e duzentos ienes com a alimentação).
De qualquer forma, mesmo pagando a mais vale a pena conhecer este lugar.
Por exemplo, pode escolher um plano que se você comer a comida recomendada por eles você paga bem menos pelo pacote do dia. E incrivelmente a comida é bem servida e melhor que aquela se não tiver um plano.
Nenhum plano contempla os vários tipos de massagens que tem no prédio, para as massagens, banhos especiais, massagens de óleo etc.. tem que pagar tudo separado. Pode escolher e pedir na portaria, mas se preferir você pode usar o interfone depois e ligar na portaria e reservar. Eu achei as massagens e os tratamentos de óleo muito caros lá, então não fiz nenhum. Logo mais abaixo explico melhor sobre cada andar.
Para subir nesse banho no quinto andar você passa no vestuário que fica no segundo andar, coloca o cartão na fechadura indicada com o número da chave, abre com a chave, para fechar você tranca apenas com a chave, o cartão fica preso la na fechadura e você pode tirar ele só no final. Coloca a roupa própria de ir no quinto andar, e no pulso a pulseirinha colorida de papel que eles também te dão na portaria caso você queira usar o quinto andar. Pode levar o celular. Pega a toalha grande, que servirá para estender na rocha de sua escolha, fica a vontade para trocar de rocha a hora que quiser.
Quando você chega no quinto andar tem uma geladeira pequena tipo uma prateleira com vidros transparentes que você pode colocar seu nome na sua garrafa e guardar sua água. Tem também um guarda celular, você põe o celular trancado e leva a chave.
São cinco portas diferentes, dois deles são banhos de rocha, e um terceiro é banho terapêutico, e o outro é uma sala de cores terapêuticas. No quinto andar a maioria è unissex, mas tem uma sala para o banho de rochas que so entra mulher e tem temperatura ambiente; os banheiros sao separados feminino e masculino. Tem também uma sala grande com sofás de cores vibrantes para relaxar, e uma biblioteca de revistas em quadrinhos, os famosos mangás que você pode ler à vontade. Neste espaço tem wifi que está com a senha a vista para todos que quiserem.
Quinto andar
1) Banho na rocha de mármore, não é bem um banho mas parece porque você fica todo molhado de suor. São rochas aquecidas, você estende a toalha marrom que te deram e deita em cima delas. Tem três tipos de pedra de mármore, com lugar para oito pessoas de cada vez. Cada pedra libera certos tipos de íons que fazem bem para seu organismo e aquece o corpo de dentro para fora. É indicado para tirar o stress , o cansaço, a ansiedade e várias outras doenças.
2) O segundo é banho de rocha também, mas outro tipo de rocha, como o primeiro você deit. Esse banho tem os mesmos tipos de rochas e a temperatura è ambiente. Ele é bom para relaxar e até tirar um cochilo porque a temperatura é ideal. Você fica lá deitado, pode levar o celular ou apenas relaxar. Só entra mulheres, pode entrar a vontade mas chega um momento que vem uma professora dar aula de yoga, tem que agendar antes e pagar separado do valor da entrada.
3) Sauna de pedras. No centro tem um monte de pedras empilhadas dentro de um recipiente com uns 1.50cm. de altura, e em cima no teto tem um tipo de abajur redondo com três camadas, parece que você tá em outro mundo. No meio da sauna a pessoa que está dirigindo a sauna no dia, liga este aparelho que tem uma luz e espirra água em cima dessas pedras que chega a 80 graus centigrados. Ao lado dessas pedras têm um balde de água com uma concha enorme dentro que serve tambem para jogar agua nas pedras. Você se sente em outro mundo. Tem os assentos em formato redondo com os lugares para sentar. Cabe cinquenta pessoas de cada vez, você escolhe sentar na parte de cima ou embaixo, em cima é mais quente.
O horário que começa o ritual está fixado em um mural ao lado da porta. Quando começa todos que ficaram na fila, recebem uma toalha pequena, marrom para os homens e rosa para as mulheres. Eu falo pra minha filha que é o banho da toalha e a gente dá risadas.
Todos sentam, e a pessoa que está fazendo o trabalho explica que tem que cobrir a boca e o nariz com a toalha, a gente fica com a boca coberta, é divertido.
Quando começa o ritual o homem pega a concha e joga a água nessas pedras empilhadas e a temperatura aumenta, ele joga umas três conchas de água. Esquenta muito e ele avisa que se alguém passar mal pode sair. Após jogar a água ele pega uma toalha grande com uma parte enrolada e a outra solta e começa a movimentar essa toalha bem forte por cima da cabeça de todas as pessoas que estão sentadas. Você fica lá só esquentando o corpo e o suor descendo. Ele dá essa toalhada duas vezes, joga mais água e de novo dá mais duas toalhadas. Todo o ritual demora 15 minutos mas é o suficiente para molhar toda a roupa. No final todos batem palmas.
A sensação quando você sai é muito boa, você se sente leve e relaxado.
4) Sala terapêutica: nesta sala você vai entrar como se entrasse em um útero, o ambiente foi projetado para você ter a mesma sensação de quando você estava no útero de sua mãe. Cor, calor, cores, sons e formato, tudo conforme se estivesse no útero. São separados com lugares para duas pessoas ou apenas uma e cabe dez pessoas de cada vez. Pode deitar ou sentar, tem um puff para cada pessoa e o chão da sala é todo coberto com sal do Himalaia. O sal do Himalaia quente libera certos tipos de íons que relaxa também e ajuda na circulação sanguínea.
5) O banho das cores é sentado, para cada cor uma cura. É uma poltrona que cabem duas pessoas. É um método de alta tecnologia que eles inventaram para funcionar bem a terapia das cores, as cores vão mudando e aparece em um painel ao lado de cada poltrona. A mudança das cores reduz o estresse e relaxa a mente, é chamado banho de cor. Azul para acalmar, verde para tranquilizar seu coração, vinho atrair prosperidade, vermelho para ter mais positividade, rosa para ficar feliz e branco para trazer coisas novas para sua vida.
Quarto andar
Vestuário dos homens, banhos de banheira apenas para homens, os famosos ofurô. Provavelmente é igual ao segundo andar onde tem as banheiras das mulheres.
Terceiro andar
Restaurante, banho de rocha e salas de massagem.
Tem uma sala de sauna de rocha, com pedras diferentes das do quinto andar; tem uma que são ágatas, sim aquelas pedras de ágatas que são encontradas no Brasil. Foram colocadas várias, uma ao lado da outra e você pode deitar em cima dessas pedras.
A pedra de sal do Himalaia também faz sua parte, aquecidas elas têm um efeito curativo e relaxante sobre todo o corpo.
A pedra de magna que é aquela pedra que a base dela é o magma dos vulcões. Essa pedra de magna quando aquecida tira o colesterol, ajuda a circulação sanguínea, relaxa, tira ansiedade, estresse, dor nas costas, dor no joelho. Todos os banhos de rocha aquecem o corpo de dentro para fora.
Você escolhe a pedra que quer deitar, estica sua toalha e fica o tempo que aguentar, porque é quente. Para cada pedra uma cura. Você pode desfrutar de cinco tipos de minerais. Eficaz para um sono confortável e no teto tem um jogo de luz suave que influencia nos cinco sentidos.
Segundo andar
- Vestuário das mulheres, banhos de ofurô e saunas também.Tem tudo, não precisa levar nada de casa. No ofurô tem sabonete para o rosto, sabonete para o corpo, shampoo e condicionador, e tem também aquele óleo para retirar a maquiagem. Empilhadas em um canto tem umas buchas em formato de toalhas para se esfregar que você pode usar à vontade. Essa bucha ajuda a retirar as células mortas do corpo.
São vários tipos de banheiras, hidromassagem, banho de seda, banho de água gelada, banho com água que eles trazem toda semana da beira do vulcão, com várias propriedades curativas. Nas banheiras de seda e hidromassagem a temperatura pode chegar a 40 graus. Vai entrando devagar que você se acostuma e quando percebe já não sente mais que é tão quente. As borbulhas do banho de seda penetram na pele retirando toda a sujeira acumulada.
Pode desfrutar da sauna de sal e da sauna seca. Eu aproveito e faço uma massagem com sal no corpo e já tira tudo a ziquizira. Tem uma coisa que não se pode esquecer e que serve para qualquer banho de ofurô que você for no Japão: tome banho antes de entrar na banheira, se esfregue bem, limpa tudo antes de entrar. Não pode colocar toalhas dentro da água. Também não pode ficar conversando porque atrapalha quem está lá para meditar ou apenas relaxar. Para manter bom para todos é importante observar as regras. Se você descumprir as regras, alguém vai te avisar que está tudo bem.
Além de tudo ainda tem banho de gás ácido que é excelente para ajudar na circulação sanguínea, problemas no coração, artrite, e além de tudo aquece o corpo. Nessa nascente as fontes carbonatadas de concentração ultra alta são utilizadas há séculos para tratar e prevenir doenças tais como: neuralgia, reumatismo, sensibilidade ao frio. Na banheira você tem que ficar sem se mexer pelo menos trinta minutos, as borbulhas do gás vão encostar toda no seu corpo, é aí que começa o processo de cura.
Normalmente eu fico trinta minutos lá parada, e faço várias entradas. Tem gente que até dá uns cochilos lá, e a água è na temperatura ambiente. Esta água gaseificada também pode ser encontrada na Alemanha oriental, onde eles também utilizam para banho.
-Espaço para secar o cabelo e cuidar da pele. Tem cotonete, loção para o rosto, creme para o rosto e corpo e secador de cabelo. Uma penteadeira separada para cada mulher. É um entra e sai o tempo todo.
Térreo
Portaria
Quando terminar tudo, você desce na portaria e nem precisa falar com o atendente para pagar. Tem uma máquina touch onde você coloca o cartão ao lado e no visor mostra o valor, você aceita, faz o pagamento no cartão ou dinheiro. Aguarda e você receberá um recibo e um outro papel com um código QR . Este código QR você mostra ele na catraca da saída e abre automaticamente.
-Sub solo
São várias poltronas reclináveis que você pode apenas encostar ou deitar totalmente. Tem que fazer silêncio total. As pessoas vão lá para relaxar ou dormir mesmo, tem gente que ronca que é uma beleza. Em cada cadeira tem uma televisão pequena que você pode ver o que quiser.
Ao lado da sala dessas poltronas tem a sala de trabalho, pode conectar seu computador, usar o wifi e ficar trabalhando o tempo que quiser.
Finalização
Não se preocupe em pagar mico, porque vai pagar, principalmente se for a sua primeira vez em um banho desse. Fica tranquilo porque os japoneses são receptivos, eles não vão rir de você. Eles entendem que você é estrangeiro e não sabe tudo. Sorria e siga em frente. Um novo mundo se descortinou à sua frente, agora é só relaxar e ir para casa dormir.
O banho é tão bom que na última vez que fomos passamos dez horas lá dentro.
Tem que ficar esperto porque dependendo do horário que você entra você terá poucas horas para ficar lá. Para quem não entende tudo é melhor entrar lá apenas depois das 10 da manhã. Abre às 7:30 fecha às 9:30 e abre de novo às 10:30 e fica aberto ate 1pm.
Como falei é bem complexo mas você precisa saber de quase tudo para poder desfrutar de uma das melhores partes desta cultura milenar que é a cultura japonesa.
@todososdireitosreservados
©todososdireitosreservados
Neste dia eu fui a lanchonete brasileira próxima ao correio da cidade de Long Branch, pedi um pão de queijo, bolo de milho e um café. Ao meu lado sentou essa jovem, ainda com cara de menina, nos cumprimentamos mesmo sem nos conhecer e começamos uma longa conversa. Seu nome é Kátia e logo de cara nos demos bem. Começamos uma conversa que chegou ao final mas ficou aquela sensação de que ainda não acabou. Sabe aquela conversa que depois te deixa pensando: “- Essa conversa ainda não acabou!” “- Nos conhecemos agora mas temos tantas coisas a serem conversadas.” Quando viajo para outro país eu vejo que cada imigrante vem com sua história de vida, carregada muitas vezes de sofrimento mas com vontade de realizar seu sonh
Katia me contou que sua mãe e seu pai trabalhavam na roça, no Estado de Minas Gerais no Brasil. Os pais trabalhavam na roça de outra pessoa, eles têm quatro filhos e ela é a menor. Para as crianças da roça era normal aquela rotina de ajudar os pais um pouco lá e acolá. Eles cuidavam de galinhas, porcos, ovelhas, bezerros, vacas e de tudo que o dono da roça mandava. Tiravam leite da vaca, davam comida para os porcos, milho para as galinhas e regavam as hortaliças todos os dias.
Um dia, o casal ouviu falar que dava para viajar a outro país e chegar aos Estados Unidos, atravessando a fronteira do México. Souberam também que várias famílias de lá mesmo da cidade deles no sul de Minas e pessoas da roça já estavam indo. Eles se empolgaram e quiseram ir também. Gostaram da idèia porque conseguiriam ganhar um pouco mais de dinheiro e dar uma vida digna aos seus quatro filhos; uma escola melhor, e boa alimentação. Se sobrasse algum dinheiro poderiam economizar para comprar a própria roça no Brasil.
Empolgados com a vida melhor que teriam seus pais se prepararam para viajar aos Estados Unidos. Portanto, nem tentaram um visto e decidiram que entrariam ilegalmente pela fronteira do México. Era década de 80 e tudo era normal.
A viagem foi planejada com alguns poucos amigos de confiança e a família. O casal juntou tudo que tinham em 3 malas, preparou os 4 filhos, abandonaram a roça e foram embora. Os filhos tinham respectivamente 07, 11, 13 e 15 anos. A mais nova, a menina Kátia è que me conta esta história hoje.
Seus pais só conseguiram vir aos Estados Unidos porque tinha um amigo da família nos Estados Unidos que poderiam ajudar no que fosse preciso. Saíram todos bem arrumados da roça, com roupas novas, a mãe com unha feita, cabelo alisado, naquele tempo ainda alisado a ferro.
No dia da viagem a família estava toda reunida para a despedida. No aeroporto as crianças choravam e davam tchau aos avós que iriam ficar na roça e nem sabiam se um dia iriam reencontrar os netos.
Chegaram na cidade do México pelo aeroporto internacional e seguiram em direção a primeira cidade de fronteira. Na fronteira próxima ao rio, já não tinha como carregar e largaram as malas e tudo para trás. Esta parte do rio não é funda e dá para atravessar a pé mesmo, mas as crianças menores e as grávidas são levadas em uma canoa. Foi uma travessia difícil e demorou alguns dias até que desse tudo certo e eles conseguissem ir para dentro do outro país.
Chegando do outro lado, já nos Estados Unidos, caminharam muito até encontrar a primeira cidade onde pudessem tomar um avião e ir encontrar os amigos.
Foram bem recebidos, nos primeiros dias tiveram que dividir casa com mais 9 pessoas; todas vindas do mesmo estado mas de cidades diferentes. Ficaram em uma casa com três quartos, dois banheiros, uma cozinha e sala de estar. Os amigos que já estavam ali arrumaram trabalho para o casal. Ela foi trabalhar na faxina e ele na construção. Nos primeiros dias as crianças ficavam sozinhas em casa, os maiores cuidam dos menores. Após duas semanas as crianças já estavam todas na escola. Me disse que foi muito difícil a vinda para os Estados Unidos porque teve que deixar seus amigos, seus avós e seus animais de estimação no Brasil.
Os pais trabalharam duro durante sete anos, juntou dinheiro que dava para comprar uma pequena roça e resolveram voltar para o Brasil. Kátia me disse que não teve opção e contra sua vontade foi obrigada a voltar com os pais para o Brasil. Ela estava com 14 anos e os outros três filhos, os homens já com a mais de 18 anos decidiram ficar nos Estados Unidos mesmo vivendo ilegalmente. A família se separou, uns pra cá e outros pra lá.
Os três jovens ficaram sozinhos, longe de seus avós, seus pais, primos e de toda a família. Assim como eles, tem vários jovens que ficam sozinhos, porque os pais resolvem voltar ao Brasil. Esses jovens trabalharam duro tanto quanto seus pais.Levavam uma vida normal com todas as dificuldades que um imigrante encontra.
A volta ao Brasil tambèm não foi fàcil para Katia pois teve que deixar seus colegas de escola e seus irmãos nos Estados Unidos. Na escola ela aprendeu a amar os Estados Unidos, como qualquer outra criança que estuda em escola americana. Me disse que poderia ter uma vida melhor nos Estados Unidos se seus pais não tivessem feito a besteira de ter ido embora e a levado.
Os pais levando ela de volta ao Brasil tiraram dela seu sonho de poder virar uma adolescente “Dreamer” (nome dado às crianças trazidas pelos pais e que cresceram nos Estados Unidos). Essas crianças passaram a ter alguns direitos a mais como imigrantes indocumentados, como por exemplo o acesso a alguns benefícios sociais do governo e um número de identificação, tipo um cpf nosso. Elas também estudaram nas escolas americanas até o segundo grau. Após os estudos muitas delas têm a possibilidade de se casar com algum jovem americano e se tornar um cidadão legal com permanência. Nas escolas muitos namoram e se casam entre si. Alguns americanos após o período escolar até se casam para ajudar algum colega de infância que esteja precisando de documento como uma gentileza ao amigo.
A vida escolar dela foi cortada e de novo as amizades deixadas para trás. Ela me diz que fica um pouco triste por isso porque aprendeu a amar este país mas não tem nenhuma chance para ela.
Ela passou parte de sua adolescência no Brasil e quando fez dezoito anos resolveu voltar aos Estados Unidos. Como não conseguiu entrar legalmente, há 4 anos atrás, entrou ilegalmente pela fronteira do México, veio sozinha. Até tentou o visto uma vez mas não conseguiu e resolveu se arriscar e deu certo.
Hoje ela está casada com um brasileiro indocumentado como ela e juntos tem uma filha de 9 anos. Ele trabalha na construção e ela na faxina. Nós conversamos bastante e passamos o dia juntos. Eu a observava e achei a história dela diferente. O que mais me chamou atenção foi o jeito dela falar. A voz dela mudava quando falava inglês e tinha uma entonação diferente de quando falava portugues. Eu até perguntei se ela ficou com alguma sequela no cérebro por causa deste transtorno na vida e ela me disse que não. Tem alguns aborrecimentos às vezes mas que já superou o fato dos pais terem feito isso com ela.
Os seus dois irmãos que ficaram nos Estados Unidos quando trabalharam na construção, em lanchonetes e em outros trabalhos que como ilegais poderiam fazer. Viveram seus sonhos de adolescentes, tiveram seus momentos de rebeldia sem apoio presencial de seus pais, tios, ou avós. Receberam ajuda dos outros brasileiros da comunidade, dessa pequena cidade ao sul de New Jersey. Um dia cresceram e ficaram adultos, constituíram família.Seus filhos nasceram nos Estados Unidos, são americanos e estão indo a escola. Diferente do Japão que não dá nacionalidade para filhos de pais estrangeiros os Estados Unidos dá a nacionalidade para quem nascer no país.
Não foi fácil, mas eles venceram, e hoje cada um tem sua família, um deles até conseguiu se legalizar e hoje tem a cidadania americana.
A vida é assim, às vezes as pessoas se deparam com algo que não esperava que fosse acontecer. Às vezes um fiasco que você dá tudo pode mudar. Os pais que estão no Brasil já fizeram de tudo para voltar com visto mas não conseguiram. Pediram perdão na corte americana mas não foi aceito. Quem entra pelo México ilegalmente e é descoberto não tem perdão. Agora eles estão mais velhos e não tem mais coragem de se arriscar e entrar ilegalmente de novo pelo México como é o caso de muita gente.
A corte americana tem uma pena maior para quem entra ilegalmente pelo México. Desses, alguns passam a vida inteira tentando e não conseguem se legalizar mesmo casando-se com cidadãos americano.
Esses pais irão demorar muito tempo para ver seus filhos, mas como a esperança é a última que morre eles continuaram tentando.
Katia não pode ir ao Brasil porque se for não consegue retornar. Quem fica ilegal e é pego tem uma pena de dez anos sem poder retornar. Agora ela tem um filho americano, o filho poderia ir ao Brasil e retornar mas ela não. Enquanto isso é seguir trabalhando e vivendo a vida que tem que ser vivida do jeito como Deus queira.
Para finalizar eu quero dizer que já ouvi muita gente falando que não tem esse sonho americano ou que não entende porque as pessoas têm esse sonho com Estados Unidos. Quem não entende è porque nada o levou a pensar nisto, mas se um dia você estiver em uma situação que precise deste país para algo você vai entender o que significa esse sonho. Enquanto isso vamos continuar respeitando os sonhos dos outros. Sonhar faz parte da vida de alguns.
É a vida acontecendo, são pessoas, seres humanos se movendo no mundo com suas aspirações, sonhos e sofrimento. Desta forma o mundo se transforma. A vida muda, o sonho muda mas ele nunca morre.
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Essa é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência
Naquela manhã de outono em Long Branch no estado de New Jersey atravessei a rua com o meu café na mão. Eu estava vivendo ali há três quarteirões da avenida Broadway, bem na parte que tem alguns comércios brasileiros e mexicanos. Eu queria conversar com aquela mulher que eu vi pedindo dinheiro em frente a loja do indiano na Avenida Broadway. O que me marcou foi que era uma senhora, e eu queria saber porque ela estava pedindo esmolas. Eu nunca tinha visto um brasileiro pedindo esmola nos Estados Unidos. Ela tinha esse jeito brasileiro das nossas origens indígenas, pequena, pele marrom, cabelo liso e preto.
Eu pensei:"- O que levaria essa senhora a pedir esmola, nos Estados Unidos, o paìs mais rico do mundo?"
O outono estava próximo e o sol se pondo mais cedo. Neste sábado de manhã e como todos os sábados de manhã eu estava saindo para comprar meu café ali na lanchonete brasileira. Faz poucos meses que eu tinha chegado na cidade e tudo para mim ainda era novidade. Eu andava pelas ruas apreciando cada folha cor vermelha, laranja ou amarela, o outono estava próximo e com aquela claridade cor de laranja por todos os lados.
Cheguei até ela, pedi licença e ofereci um café, perguntei para ela porque ela estava pedindo, e eu tinha visto uma postagem no facebook falando sobre ela. Me perguntou se eu estava disposta a ouvir a história de sua vida, eu disse que sim e ela me contou:
"- Eu vim para os Estados Unidos muito jovem quando eu ainda tinha meus vinte e poucos anos. Veio eu e meu irmão tentar a vida aqui na America. Quando chegamos há mais de vinte anos atrás, fomos morar em uma casa com oito brasileiros, todos recém chegados. Dormíamos em um colchão no chão, não tinha quarto e nem cama para todos. Passado uns dias eu já arrumei um trabalho de ajudante de faxina, e meu irmão conseguiu na construcao," disse-me ela. Acordava cedo todos os dias e limpava de quatro a cinco casas por dia. A patroa brasileira, dona da agenda de casas, levava a gente em um carro bonito. Era eu e mais uma ajudante.
"- Com este trabalho de ajudante eu consegui juntar algum dinheiro do que sobrava depois que pagava o aluguel e todas as outras contas. Eu e meu irmão ficamos ali naquela casa por alguns meses e depois conseguimos alugar um pequeno apartamento para nós. Com o tempo fui conversando com as pessoas que encontrava e consegui minhas próprias casas de faxina e não precisei mais ir de ajudante. Foi um alívio, eu agora não precisava mais ir como ajudante. Trabalhei com as pessoas mais ricas aqui do entorno da cidade de Long Branch. Eu ganhava bastante dinheiro, eram minhas clientes e eu conseguia pagar todas as minhas contas. Eu sempre tive carro bonito, roupas bonitas e meu apartamento que não era luxuoso e eu vivia muito bem." Eu ouvia tudo com muita atenção sem interrompê-la, na minha mente eu via essa senhora com aquele monte de sacolas, e pensava na dificuldade dela todos os dias; e ela continuou:
"- Ê minha filha nesta vida a gente só vale quando a gente pode trabalhar, quem não pode mais é descartada. Está vendo essa minha mão aqui? "- Sim!" afirmei. "- Então esta minha mão torta deste jeito ficou assim de tanto trabalhar na faxina. Quando eu era jovem eu tinha energia, hoje já não tenho mais. Eu comecei com essa doença nas mãos que até hoje não sei o que é. Meu irmão foi embora porque ele ficou doente. Eu nao quis ir embora junto com ele pois se eu fosse iria ter que morar junto com minha irmã. Eu tinha uma casinha lá em Minas Gerais, mas dei a minha casinha para minha irmã que não tinha onde morar."
"- Cada dia mais minha mão foi ficando turva e as minhas clientes de faxina foram me dispensando porque eu não dava mais conta do trabalho" Fiquei sem ganhar nada, vendi meu carro. Meu dinheiro já não dava mais para pagar o apartamento e eu entreguei meu apartamento e fui morar nas ruas.
"- Puxa vida," eu exclamava. "-E agora você mora onde?"
"- Eu não tenho casa, moro nas ruas. Há um tempo atrás algumas pessoas bondosas me acolhiam em suas casas, eu dormia uma noite em uma casa e outra noite em outra. Hoje em dia não tenho mais ninguém. As vezes durmo em uma estação de trem, as vezes durmo em outra. Tem um homem bondoso na próxima estação que me deixa dormir lá. Eu chego cedo lá para dormir. durante o dia eu peço dinheiro para poder comer. Muitas das vezes estou em Nova Iorque porque lá é melhor.
Senti muita compaixão por essa história de vida. Eu disse à mulher que ela poderia ir na igreja Saint James Church, ali perto mesmo que lá eles dão comida, e tem um programa social. Ela me disse que conhecia o programa , que já havia tentado mas que não conseguiu nada.
Perguntei se ela tinha vontade de voltar ao Brasil e ela me disse que não, porque tinha vergonha de chegar lá como uma mendiga e não tinha mais onde morar. Me contou de novo que doou sua casa a irmã e que não tem mais lugar para morar.
Eu dei um dinheiro para ela e segui meu caminho para casa pensando na história de vida desta mulher. Viver fora do país da gente é difícil, encontramos muitas dificuldades. Muitas vezes quem está passando um momento difícil não fala nada, não reclama e parece que está tudo bem. Só quem vive fora, quem vê o que as pessoas passam fora do país entende o verdadeiro significado da palavra imigrante. Fico triste em saber que tem pessoas que não tem um lugar para dormir. Qualquer um pode ir parar na rua, ninguém está totalmente blindado. Mesmo que a pessoa tenha segurança financeira pode acontecer. Às vezes um problema mental, uma perda de memória também levam pessoas em situação de rua. Vamos cuidar mais dos nossos.
Obs: Agora já estamos no ano de 2021 e eu me deparei com um artigo de um jornal local da comunidade aqui que os brasileiros fizeram uma vaquinha e pagaram a passagem para essa senhora voltar ao Brasil.
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Só uma mulher muito forte tem essa coragem de pegar seus quatro filhos e atravessar a fronteira terrestre pela fronteira do México e entrar ilegalmente nos Estados Unidos . Ela chegou faz quatro semanas. Trouxe todos os filhos com ela, um casal de gêmeos com seis anos, uma menina de doze e um adolescente menino de 17 anos. Eles vieram de uma pequena cidade do interior do norte de Minas Gerais, Brasil.
Eu conheci essa brasileira corajosa e logo de cara percebi que ela era uma mulher forte. Nos apresentamos tomamos um café e logo em seguida já começou a me contar sua história e como veio parar nos Estados Unidos.
Com lágrimas nos olhos ela me disse que ninguém ajudava ela a cuidar de seus quatro filhos e que um dia queria ser imigrante. O pai das crianças não quis nem saber, quando se separaram ele deu as costas para a família e nunca ajudou ela em nada.
No começo ela até insistia para o pai ir ver os filhos mas ele não ligava, então ela desistiu de vez. A família dela também não queria saber de ajudá-la.
Ela me dizia que haviam passado fome e como teve que ser forte para continuar lutando para que não faltasse comida. Os meus olhos também enchiam de lágrimas e eu contei a ela um pouco da história da minha vida, nos emocionamos juntas neste dia. Ela se emocionava com a minha história e eu com a dela.
A vontade dela era um dia largar aquela vida dura no Brasil de cuidar sozinha dos filhos e ir para os Estados Unidos para tentar uma vida diferente. Era um sonho a realizar e no pensamento dela já tinha tudo organizado e os passos que daria para chegar até lá.
Ela sempre pensava que chegando neste outro país seus filhos estudariam em uma escola melhor, teriam melhor alimentação e por isso fez todo esse esforço para sair do Brasil, pelos seus filhos. Queria dar uma melhor educação para os filhos,e ganhar um pouco mais de dinheiro, guardar uma, pois sonhava em comprar sua casa própria no Brasil.Ela sabia que da forma como vivia no Brasil e da falta de oportunidades naquela cidade pequena seu sonho da casa própria ficaria cada vez mais longe.
Aos poucos o pequeno negócio dela foi crescendo e ela montou um pequeno restaurante. A vida começou a melhorar desde quando ela fez esse restaurante, os filhos maiores ajudavam os menores.
Mesmo depois do restaurante montado ela ainda tinha essa vontade de viajar e não parava de pensar nisso. Um dia ela decidiu que iria e nada e nem ninguém a impediria de seguir seu sonho. Várias famílias de sua cidade já tinham ido, ela poderia ir também, pensava. Então resolveu se preparar, começou a guardar dinheiro, pagou as dívidas para ter crédito no banco e poder ter alguns cartões de crédito que a ajudariam chegar no México e passar pela imigração sem problemas. Aos poucos aquele sonho começava a ter um formato real e ela via que seria possível tornar realidade aquele sonho.
O preparo para a viagem durou alguns anos, pois, a família era grande, e só de passagens era muito dinheiro para ela pagar sozinha. Lembrava que tinha que pagar também as pessoas que a ajudariam atravessar quando chegasse na fronteira. Quando estava tudo pronto, ela pediu alguns cartões de crédito em vários bancos, comprou as passagens no cartão de crédito. O dinheiro que ela tinha dava apenas para pagar as passagens até o México e pagar os coiotes que a levariam até a fronteira e a ajudariam atravessar para o outro lado que era Estados Unidos. Não sobraria nenhum centavo para começar a vida quando chegasse do outro lado. Comprou malas, roupas novas para as crianças, pegou alguns cartões de crédito e levava o dinheiro na carteira que era uma quantia grande para pagar os coiotes.
Essa historia se passa a mais de 4 anos e o sistema de entrada no Mexico para os brasileiros tinha acabado de ter uma mudança, estava facil entrar no Mexico, bastava preencher um formulario online no site do Consulado mexicano e pronto. Era só chegar na imigração do México e mostrar os cartões e o dinheiro e pronto, carimbo no passaporte e visto de seis meses para qualquer cidadão brasileiro. E do México era só seguir para a fronteira com os Estados Unidos.
Também era conhecido que na época quando essa história acontece todas as pessoas que chegassem na fronteira dos Estados Unidos com crianças eles colocariam para dentro dos Estados Unidos e ajudariam a pessoa a ficar lá, dando asilo. Muita gente entrou dessa forma. Teve pessoas que até pegaram os filhos de outros dizendo que eram seus para entrar. Houve muita confusão na fronteira mas no final quem era pra entrar entrou.
Nós rimos quando ela disse:
"- Que turista que nada minha filha, eu estava indo para a fronteira atravessar a pè. Torcer para ser encontrada na fronteira dentro dos Estados Unidos entrando ilegalmente.” Os cartões já não tinham crédito e o dinheiro já estava comprometido com o pagamento dos coiotes.
Até a chegada no México foi tranquilo, mas a partir do portão de saída do aeroporto da Cidade do México tudo mudou, a vida de dureza começou. Do outro lado, após passar pela imigração bem no portão de saída para o México já encontrou o coiote. Ele sabia a cor da roupa dela, das crianças, tipo de mala etc., tudo resolvido antecipadamente. O coiote passou do lado e mostrou uma tela do celular com o nome dela e ela acompanhou ele.
Saiu tipo rica do Brasil com dinheiro na carteira e no México já ficou pobre. Ela sabia que o dinheiro da carteira era apenas para mostrar aos agentes da imigração “- Entreguei todo o dinheiro na mão do coiote,” me disse.
Do aeroporto, o coiote conduziu ela e os filhos até um ônibus que a levou na fronteira do México com os Estados Unidos. O caminho até lá era pelo meio do mato. Chegaram próximo a fronteira e a partir deste ponto ainda em territorio mexicano seguiram a pé pelo deserto ate alcançar o deserto ja no lado dos Estados Unidos. Foi uma grande caminhada.
Esta fronteira onde ela chegou não tem o porto de entrada ou seja uma imigração que controla o fluxo dos imigrantes. As pessoas vão andando uma parte por água , outra pelo deserto. Quem mostra o caminho são os coiotes. Esses que recebem dinheiro para colocar as pessoas de alguma forma para dentro dos Estados Unidos. Ela foi fazendo o caminho que os coiotes iam indicando. Era uma turma grande de pessoas caminhando juntos.
Teve um momento que ela já estava tão cansada que não conseguia mais andar com nada. Ela diz que andou tanto que foi largando as malas para trás. Pegava algumas roupas, as melhores e tentava carregar, quando não dava mais, largava pra trás. Ela e seus quatro filhos chegaram nos Estados Unidos somente com a roupa do corpo, a bolsa de mão e o telefone.
Quando não aguentava mais caminhar, as crianças cansadas, todo mundo com fome e sede, e foi nesse momento que ela foi pega ainda pela imigração do México. Conta que ficou morrendo de medo porque todas as pessoas que eram encontradas pela imigração mexicana acabavam presas lá mesmo e sendo deportadas para o país de origem.
Foram para uma prisão suja e fedida, ela me disse que ficavam umas cem pessoas em um só cômodo, o banheiro não tinha porta. Tudo lá dentro era filmado. O vaso sanitário era apenas um buraco no chão com uma câmera em cima para vigiar. Ali passou um dia e meio. Foi na manhã do próximo dia que ela recebeu um telefonema do coiote dizendo que ela estava liberada e que ele estaria na porta de saída e a conduziria para outra fronteira já que nessa não deu para entrar.
Lá vai ela com seus três filhos caminhando, pegaram um ônibus, só com a roupa do corpo, algum alimento na bolsa de mão que ela pegou na prisão do México. Pegaram um ônibus e fizeram um pequeno trecho de 5 horas e depois começaram a caminhar novamente e assim foi o dia todo e finalmente conseguiram atravessar a fronteira e entrar em território americano.
Andou muito já dentro do território americano e quando já não aguentava mais apareceu um agente da imigração americana e ela foi encontrada junto com outras pessoas.
Ficou feliz pois sabia que o sonho de entrar nos Estados Unidos tinha se realizado. Ali mesmo eles já tomaram água e receberam comida. Disse que foram muito bem tratados pelos agentes americanos. Mal sabia ela o que viria ainda pela frente.
Todos os encontrados junto com ela foram fazer o teste de covid. O teste de Isaura e de seu filho maior deu positivo e eles foram levados para um hotel que tinha virado hospital de campanha para imigrantes ali próximo a fronteira mesmo. Tudo isso e ainda junto o medo de ser mandada de volta para o Brasil. O que ninguém quer é ser mandado de volta, além da vergonha ainda não tem mais nada, nem dinheiro, nem casa, nem trabalho.
Ficaram vinte dias em tratamento nesse hospital de campanha, a família toda foi junto. Receberam toda a assistência que precisam sem pagar nada, claro, aliás se precisasse pagar nem teriam dinheiro, às crianças ficavam juntas e elas brincavam no hospital que tinha brinquedos, alimentos, roupas e doces. Não faltou comida para ninguém da família, ninguém passou fome, nem sede.
Laura estava desesperada para sair daquele hospital emergencial, pois, tinha que continuar sua vida, quatro filhos para criar, e ainda tinha as dívidas com os coiotes e fora as dívidas que deixou no Brasil. Primeiro tem que pagar os coiotes e depois as outras.
Quando parecia que as coisas começaram a dar certo depois que se curaram da covid, foram encaminhados para uma prisão de imigrantes ilegais ali próximo à fronteira. Permaneceram mais 15 dias e ainda tinha muita coisa para acontecer pela frente. Isaura não parava de rezar e pedir a Deus que liberasse ela o mais rápido possível pois as crianças estavam cansadas e ela já não aguentava mais toda aquela situação.
Em uma manhã, um agente a chamou e a levou para fazer o exame de DNA para se um dia precisar confirmar que os filhos são dela mesmo. Um advogado também conversou com ela, e disse que seria o advogado dela para as questões de visto. Tinha que esperar o advogado confirmar todo o acontecimento e dar o número de um caso, um endereço de um fórum e o nome de um juiz onde ela vai ter que comparecer para se explicar melhor.
Porque Isaura estava em território americano? O que Isaura estava tentando fazer? Qual é a história da vida de Isaura no Brasil? Como ela vivia em seu país? Onde está o pai de seus filhos? O juiz depois de ouvir tudo ele vai dar um parecer e dizer se Isaura poderá permanecer nos Estados Unidos trabalhando e cuidando de seus filhos. Após quinze dias foram liberados e uma família na pequena cidade da costa sul do estado de New Jersey acolheu Isaura e seus filhos. Ficaram todos dormindo em uma sala.
Ela me contou que no dia que chegou nessa casa teve um ataque de choro tão forte que todos se assustaram. Ficou um pouco apertado mas é provisório. Isaura agora está juntando dinheiro para poder dar um sinal de depósito do aluguel da casa para ela e seus filhos morarem. Sim, ela já está trabalhando como ajudante de faxina e seu filho mais velho, o de 17 anos também trabalha como ajudante de pedreiro.
Agora é organizar a vida, colocar as crianças na escola e viver o melhor de seus sonhos. É um sonho, mas que tem que trabalhar e muito para se manter. Depois de tudo isso talvez passar a vida toda trabalhando de
faxineira na casa de americanos para manter a vida neste país onde nada é fácil. O país onde o filho chora e a mãe não vê, diz o ditado popular dos imigrantes ilegais brasileiros.
Trabalhava de cozinheira todos os dias em um restaurante pequeno no centro dessa pequena cidade na costa sul do estado de New Jersey. Para economizar e fazer mais renda, ela começou a fazer comida aos finais de semana quando estava em casa. Mesmo cansada, ela continuava trabalhando aos finais de semana.
O filho mais velho de Isaura é um menino super inteligente e esforçado, já chegou falando inglês, pois como a mãe comentava desde pequeno lá no Brasil que queria um dia imigrar aos Estados Unidos. Ele estudou sozinho em casa para aprender a falar inglês, e hoje o menino traduz tudo para a mãe.
Isaura me contou sua história com muita emoção, uma história de sucesso, ela conseguiu entrar, seus filhos já estavam estudando e ainda precisava organizar os documentos da escola dos quatro filhos
@todososdireitosreservados
Chegamos no Japão, eu com minha família, duas filhas e o marido nativo do Japão. Era mês de agosto, estava calor e era o mês das festas...